1ª Edição - Ano MMXXIV
SER na primeira PESSOA
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Leonor Ferreira
Aluna do 12º ano da E. S. Restelo
O que é a amizade?
Os seres humanos são complexos ao nível emocional, uma vez que racionais e sentimentais.
Características essas que os tornam tão reais e tão únicos. As relações sociais existem, porque estes se sentem uns aos outros, existindo uma conexão que os une inteiramente. A amizade resulta desse sentimento de empatia, de algo superior aos bens quereres pessoais e de um momento de pura partilha de emoções. Ser amigo é querer ao outro o mesmo que queremos a nós. É uma reciprocidade que equilibra o bem-estar de ambos. É uma cumplicidade sem dever, porque estamos por prazer. É um laço invisível que nos leva a todos os lugares, sem nos ter que levar. É um saber constante com quem contar. A amizade define-nos, na medida em que transparece a sensibilidade que temos um para com o outro. É uma relação de respeito, partilha e carinho com base na lealdade.
O que significa a liberdade para si?
Liberdade. Uma palavra que deambula sozinha, mas que agrega muitas outras. Todos a anseiam, no entanto muitos a matam. Esta, mais que um estado de espírito, é um direito comum e coletivo. Uma palavra que, de tão simples, se torna tão complexa, forte e real pela voz do povo que suplica por um caminho de igualdade: a verdadeira essência e personificação do que a liberdade realmente representa.
Sei que sou livre, no entanto, não o sou completamente. Não só por estar condicionada por elementos externos que me delimitam esse estado, como também condicionada pelo meu próprio pensamento. Ainda assim, sou afortunada por poder afirmar que sou livre, de conhecer o seu significado, de poder senti-lo na pele e de desfrutar dele. Não só do meu direito como ser humano, mas, principalmente, como mulher.
Tantos deram vidas por esta palavra, que os desconsideraria se reduzisse o seu significado e importância ou se diminuísse o impacto que a sua luta teve a nível mundial. Infelizmente, ainda assim, perduram regimes criados pelos ladrões do livre arbítrio. Que têm liberdade para retirar, mas nenhuma para devolver.
Para mim, liberdade é resiliência, é ser não mais que uma voz no meio de milhares, mas que se ouve como se estivesse só. São aqueles que lutam pelas suas crenças e aqueles que se abstêm de lutar. É o respeito mútuo pelas liberdades pessoais e do grupo. É o privilégio de nos podermos envolver na sociedade. É a vontade de se SER!
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O que trouxe o 25 de abril ao país?
Portugal sofreu um regime ditatorial durante 41 anos, no qual o povo se sentiu oprimido e desvalorizado. Deixou de poder ter uma voz e os que a tinham e lutavam pela mudança eram censurados. Um momento de instabilidade e repressão que espalhou o medo pelas ruas portuguesas. Estas que outrora tinham presenciado sorrisos, agora presenciavam insatisfação e melancolia. O Estado Novo tinha-se instalado no seio de Portugal. No entanto, quando se acredita vivamente numa causa e há consciência de uma urgente mudança, a população age com o coração. Esta, que era impotente aos olhos do regime, é a mesma que o salva. Destaca-se pela resiliência e pelo poder que tem a palavra, a arma do povo.
O 25 de abril marcou pela força que temos como um só e é a prova viva que nunca se está sozinho na luta pela liberdade. Uma revolução que marca gerações e relembra o verdadeiro significado do que é viver em comunidade. Uma revolução que deitou abaixo um regime com a vontade coletiva de um país melhor. Uma revolução pelo amor e pela democracia.
Todos temos o direito de sermos ouvidos, valorizados e entendidos, de podermos remar contra a maré de vontades e ideais. Devemos lutar por sermos pessoas livres e individuais, antagonicamente ao jogo de marionetas a que todos estamos sujeitos. É preciso existir, por isso, uma consciencialização formada do nosso livre arbítrio. Que é um direito e não uma possibilidade. O 25 de abril abriu, assim, espaço para uma nova esperança que, até hoje, arde no coração dos portugueses.
Com um cravo se cravou uma nação, na mesma que tinha cravado desacato na população. Fez-se assim história, com uma simples vitória na revolução.
Acha que os jovens são compreendidos pelos mais velhos?
Existe evidentemente uma barreira ilusória que divide gerações, o tempo. Este que nos rouba tanto, mas que simultaneamente nos oferece tanto. Acredito vivamente que todos somos apegados e influenciados por ele, na medida em que até nos apropriamos e chamamo-lo de “nosso”. As nossas memórias, as lições que aprendemos, os maus e bons momentos que partilhamos, as nossas etapas de vida, o nosso início e o nosso fim, estão marcados nele. Inevitavelmente, o tempo agarra-nos e marca-nos. Existe, por isso, uma tendência de conflitos e comparações entre gerações.
Deste modo, há uma resistência à mudança marcada pelos mais velhos. Estes, que viveram de uma forma, têm de aprender a viver de outra completamente distinta. Ainda assim, persiste uma flexibilidade patente na sociedade, que a fez evoluir e crescer.
Os jovens trazem inovação a nível intelectual e emocional. São naturalmente emancipados e defendem os seus ideais por ainda acreditarem na mudança e num mundo melhor. Não são desistentes, na medida em que estão na flor da ingenuidade e, por esse motivo, exigem alterações. Em antítese, as pessoas com mais anos de experiência, tendem a desvalorizar esse ímpeto. Caracterizam uma sociedade de estagnação pela conformação dos seus valores, por terem desistido da revolução e por estarem afeiçoados com o seu tempo. Por outro lado, são eles que conseguem lê-lo e analisá-lo, de forma ponderada e consciente. São eles que delegam, nos mais jovens, o futuro por intermédio da sua sabedoria.
Existe, por isso, um confronto de valores que pede um equilíbrio e de tolerância parte a parte. Assim como os mais velhos têm de procurar compreender os mais novos, também os mais novos têm de valorizar os mais velhos. Um mundo melhor e inclusivo é um mundo que abraça a mudança, o respeito e aceita o tempo como um vínculo de aprendizagem em detrimento da estagnação.
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Que mudanças ou melhorias gostaria de ver implementadas no currículo escolar?
O currículo escolar ainda pede melhorias e mudanças, as quais merecem o devido respeito e atenção. Acredito que é fulcral a consciencialização dos jovens na vida adulta, para que se tenham gerações informadas e letradas antes de iniciarem essa etapa das suas vidas. Implementar um programa que desencadeie respostas e perguntas dos mais novos face às suas responsabilidades futuras, é uma necessidade evidente.
Infelizmente, ainda não existe informação suficiente, no ambiente escolar, que possibilite adquirir os conhecimentos básicos face à economia e política, por exemplo. Fornecer palestras ou mesmo protocolos com empresas que nos retratem o mundo do trabalho e as suas respetivas obrigações, bem como se procede à gestão das finanças pessoais, é indispensável.
Deste modo, é imprescindível a implementação de um programa de ensino que acresça conhecimentos sobre os elementos básicos da vida adulta, na medida em que facilita a compreensão e interesse dos jovens pela mesma. Este traria a consciencialização social e económica, ajudando a resolver problemas práticos do dia-a-dia de um adulto.
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Quais são os desafios mais significativos que enfrenta enquanto aluno/a do ensino secundário?
Ser aluna é um constante desafio e privilégio intelectual. Ser aluna é saber cair e levantar persistentemente. É uma responsabilidade para com uma nação e para connosco, uma vez que seremos futuros trabalhadores. Ser aluna é permitir-me falhar para saber como acertar. É a mais turbulenta jornada de emoções que mais nos ensina, na medida em que é nela que mais aprendemos a crescer, a formarmo-nos como futuros cidadãos. Ser aluna é estarmos no nosso expoente máximo, mesmo não estando, porque nem sempre a consistência é uma opção. Ainda assim, tento abstrair -medo que me rodeia e focar-me nos meus futuros projetos, no meu futuro eu.
Estamos sob pressão para termos de saber quem queremos ser desde tenra idade. Termos de traçar um plano de vida numa fase de desenvolvimento intelectual. Somos crianças a decidir a vida de um adulto que ainda não existe. Abstenho-me, por isso, de sentir culpa por nem sempre saber quem quero ser e que caminho tomar. Por ter dúvidas do caminho que decidi quando tinha 14 anos, mas, simultaneamente, agradecer por tê-lo feito, porque questionar faz parte da jornada de crescer.
O ensino secundário corresponde a anos de muita persistência e garra. Ultrapassei barreiras que não tinha consciência que conseguia ultrapassar. Aprendi, por isso, muito sobre mim própria e sobre a pessoa em quem me quero tornar. Exijo muito de mim, razão pela qual o meu caminho está a ser muito trabalhoso, mas, ainda assim, o mais gratificante. Os resultados vêm sempre, mesmo que, por vezes, sejam mais tardios.
Tive de me desafiar a saber aceitar o erro naturalmente e de relativizar o que sentia por não ter tido a nota que gostaria, mesmo após horas de afinco estudo. Persisto e supero as barreiras que me levam à incerteza, porque o maior erro é deixarmo-nos levar pela comodidade, tanto do sucesso, como do insucesso.
Qual o seu maior medo?
Tenho uma paixão pelo mundo artístico desde que me lembro. Motivo pelo qual decidi tomar esse rumo na minha vida futura. Ainda que esteja certa da escolha que tomei, não consigo evitar os pensamentos negativos que me prendem à incerteza. Fujo do insucesso, mas prendo-me às possibilidades do erro. Sinto-me, por vezes, cativa do meu próprio medo de errar e a desilusão que causaria com esse ato.
No mundo das artes, poucos são aqueles que singram e que se destacam efetivamente. O jogo de oscilação a que estamos sujeitos, provém da subjetividade presente nesta área. O insucesso é sempre uma certeza, o que não o é, é a forma como lidamos com ele.
Desafiei-me ao seguir o mundo artístico, mesmo sabendo as suas dificuldades. Desse modo, agarro-me a ele e entrego-me completamente. Farei por homenagear, na minha vida e nas minhas opções, aqueles que acreditaram em mim.
O receio que está patente em mim de ser, mas também de não o ser. O receio de ser só mais uma em milhares e o desejo de ser alguém. O esperado e o desejado que brincam com o que sou e o que serei. Uma crise de possibilidades que eu sempre terei.
Ainda assim, a minha escolha será sempre o ser completamente, mesmo que ainda não o seja.
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Como lida com a ansiedade e a pressão relacionadas com os estudos?
Frequentar a escola é um privilégio, no entanto, é, também, um desafio. Deparamo-nos com as nossas dificuldades e somos bombardeados de nova informação diariamente. É expectável, por isso, nem sempre correspondermos às nossas expectativas e sentirmos pressão pelo nosso futuro. No entanto, por vezes, é necessário relevá-las e saber lidar com elas, uma vez que inevitáveis.
nfelizmente, a ansiedade está muito presente no dia-a-dia dos estudantes, revelando, por isso, um estado de pressão que está adjacente aos estudos. Desse modo, é necessário encontrar mecanismos de defesa que auxiliem nesses momentos.
Quando não me sinto bem psicologicamente, refugio-me na minha família e amigos que me dão apoio incessantemente. Proponho-me a realizar atividades que me oferecem bem estar psicológico e que me fornecem motivação, ainda que, por vezes, esses resultados não sejam imediatos e fáceis de obter. É um caminho longo e irregular e, como tal, a necessidade de persistência e apoio emocional é crucial. Abstenho-me, assim, de pensar negativamente em tais momentos e não valorizar os medo, a ponto de me impedirem de atingir os meus objetivos.
Em contrapartida, aprender é algo que faço com prazer e que me faz evoluir. Sou grata por ter acesso aos estudos e poder usufruir deles. A escola também pode ser família e a construção de laços com quem nos ensina é dos mais bonitos que se pode criar. Deste modo, é preciso estar ciente que todos os percursos da vida não serão desprovidos de dificuldades, pelo contrário, desafiarão, constantemente, a nossa perceção do mundo e de nós próprios. Temos, simplesmente, de os levar com leveza e naturalidade, porque errar, erramos todos, mas continuar é o real desafio.
Quais são os seus objetivos académicos e profissionais para o futuro?
Desde pequena que adoro desenhar e essa foi uma paixão que, com o passar dos anos, foi crescendo e evoluindo. Ainda que tenha um amor pelas ciências e em tudo o que esta implica, decidi arriscar e seguir um sonho de criança, tornar-me artista e animadora cinematográfica na empresa da Disney. Foi uma decisão fácil de tomar, não só pelo apoio imensurável que tenho ao meu lado, como também, por ser uma área que me preenche de diferentes maneiras. Era incapaz de me imaginar seguir outro caminho que fosse desprovido de arte e de raciocínio artístico.
Pretendo seguir com a licenciatura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa, no curso de Desenho, uma vez que me dará bases para um amadurecimento no traço e no olhar. Mais tarde, planeio tirar um mestrado em animação, no mesmo estabelecimento de ensino, e candidatar-me para realizar estágios na equipa da Joana Vasconcelos e em empresas de animação, bem como, a Disney, a Pixar ou a Dream Works.
Gostava, ainda assim, de continuar o meu percurso como artista, vender o meu trabalho, criar a minha própria empresa e nunca abandonar a vertente criativa pessoal. Hoje em dia, estudo e, simultaneamente, vendo trabalhos meus. Deste modo, publico os meus trabalhos na minha conta profissional, nas redes sociais. Esta tem o intuito de uma melhor divulgação do meu percurso como artista, captando, por isso, um público mundial e marcas internacionais que, futuramente, gostava de trabalhar.
Tenho um percurso grande ainda por realizar, mas este é superado pelo entusiasmo, pela vontade de ser cada vez melhor e o prazer que terei durante todo ele. Assim, reflito que às vezes é preciso saber ouvir o coração e arriscar, porque, eventualmente, os arrependimentos serão as únicas memórias se não o fizer.
Acha que os jovens são mais felizes hoje do que há 40 ou 50 anos?
Considero que, independentemente da época em que vivemos e do estado de cada um, a felicidade pode ser vivida no seu expoente máximo.
Ainda que tenhamos um desenvolvimento tecnológico superior, acredito em melhores condições de vida e que estes possam influenciar na nossa felicidade, não retiram a que já existiu. As gerações terão, evidentemente, diferentes formas de entretenimento e de lazer, no entanto, estas não poderão ser comparadas, uma vez que antagónicas e inseridas num diferente contexto histórico.
As opiniões serão sempre diversificadas relativamente às tecnologias e ao estado evolutivo do mundo. Há quem defenda que piorou a nossa qualidade de vida e difundiu o individualismo e há quem defenda o contrário. Não obstante, a alegria, ainda que tenha uma componente materialista, não pode ser definida nesses parâmetros, uma vez que o conceito de riqueza difere consoante a pessoa em questão. Por vezes, os que mais têm, são os que menos bem vivem. Provando, assim, que o nosso estado emocional é desassociado a épocas de evolução, mas às nossas relações e interesses pessoais momentâneos.
Concluo que é de impossível comparação a felicidade dos jovens de hoje em dia com os das épocas passadas, na medida em que esta se atinge de forma pessoal e interior e é destituída de uma referência universal e de parâmetros que a contabilizam. Deste modo, todos somos capazes de a sentir inteiramente, na medida em que até o simples quotidiano tem a força suficiente de a proporcionar, consequência direta da nossa perceção. A felicidade não se obtém do ter, mas do SER.
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