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A Nova Capital do Egipto

Por Clara Torres, Madalena Pereira, Maria Assunção Gameiro e Maria Leonor Fonseca, do 12.º F

Como trabalho final do primeiro período da disciplina de Economia C, foi-nos pedido que escolhêssemos duas fotografias do concurso do World Press Photo, que as contextualizássemos em termos histórico-geográficos e que analisássemos o grau de desenvolvimento humano das regiões em que estas foram tiradas, com recurso a indicadores simples e compostos.

Das fotografias premiadas no continente africano, as que mais nos chamaram à atenção foram registadas no Egito, mais especificamente na nova capital em construção perto da cidade do Cairo.

O Egito, localizado no Norte de Africa, tem uma longa história que remonta ao tempo das primeiras civilizações. A sua localização geográfica desempenhou um papel fundamental no seu desenvolvimento, nomeadamente devido ao seu mais importante rio, o Nilo.

Ao analisar as fotografias da construção da nova cidade, deparámo-nos com a hipótese da existência de uma grande disparidade entre o nível de vida da população, uma vez que esta nova cidade será́ inacessível para a população que a está a construir, segundo a informação disponibilizada no site do World Press Photo. Assim, ao longo deste trabalho, utilizamos diferentes indicadores que medem o nível de desenvolvimento humano, a fim de o confirmar ou não e perceber esta possível diferença existente no nível de vida da população.

Na imagem 1, é possível observar a construção da Nova Capital Administrativa do Egito que, segundo o site World Press Photo, o governo começou a construir a 60 quilómetros a leste do Cairo. Inspirado no Dubai, este novo ambiente urbano irá acomodar ministérios governamentais, um palácio presidencial, grandes empresas e cerca de 6,5 milhões de pessoas. Os planos são para uma cidade sustentável e “inteligente”, que ajudará a aliviar o congestionamento crónico e a poluição na atual capital.

Através desta informação, é possível deduzir que o estilo e custo de vida desta cidade irá ser elevado, restringindo-a a uma pequena parte da população egípcia. Uma vez que, segundo notícias recentes, o país vive em grande instabilidade política, desde a primavera árabe e, devido à elevada inflação registada, uma grande parte da população vive abaixo do limiar de pobreza.

Imagem 1 Vista aérea da nova capital adm

Imagens 2 e 3: Construção da nova capital administrativa do Egito, por Nick Hannes   Fonte: World Press Photo 2023                                  

Nas imagens 2 e 3, podemos ver os trabalhadores que estão a construir a cidade, quase que comprovando que esta não lhes está destinada. Segundo o site do jornal Publico, centros residenciais da nova capital oferecem apartamentos no valor de 60 mil euros, um valor absurdo, tendo em conta que os trabalhadores que lá trabalham recebem em média 187€ por mês.

Vamos, então, proceder à análise dos indicadores selecionados para comprovarmos, ou não, a tese da desigualdade existente no Egito e verificarmos o seu nível de desenvolvimento. Os indicadores que iremos utilizar serão o índice de desenvolvimento humano (IDH), o índice de desenvolvimento humano ajustado às desigualdades (IDHAD), o índice de Gini e o rendimento nacional bruto per capita (RNB per capita). Decidimos analisar não só́ os dados do Egito mas também dos Estados árabes para perceber de que modo o Egito se enquadra no contexto que o rodeia, assim como os dados do Mundo para o comparar com a situação global.

O primeiro indicador simples analisado é o rendimento nacional bruto per capita, que transmite a informação de quanto é o rendimento médio de cada habitante. Assim, em média, no Egito, cada habitante tem um rendimento de 11 732$, recebendo menos do que tanto nos estados árabes, com 13 501$, como no resto do mundo, com 16 752$.

No entanto, este indicador isolado não nos dá muita informação, pois é apenas um valor médio. Assim, o segundo indicador que analisamos é o índice de Gini, com o objetivo de perceber como está distribuído o rendimento pelas diferentes camadas da população. Este indicador pretende medir o grau de concentração do rendimento nos diferentes grupos populacionais e varia entre 0 e 100, onde 0 corresponde à igualdade total e 100 à desigualdade completa.

Tabela2.png

Podemos verificar que os 40% da população mais pobre, no Egito, detinha 21.8% do rendimento total. No entanto, os 10% mais ricos detinham 26.9%, resultando num coeficiente de Gini de 31,5. Para além disso, o ponto percentual mais rico recebe 19,9% do rendimento.

Assim, apesar de 31,5 se afastar de 100 (desigualdade absoluta), concluímos que existem elevadas desigualdades no Egito.

Nas outras áreas consideradas na tabela, a diferença entre os 40% mais pobres e os 10% mais ricos é maior, tanto nos Estados Árabes como no Mundo. No entanto, no Egito, o ponto percentual mais rico recebe significativamente mais do que nas duas outras áreas.

Uma vez que um indicador simples não é suficiente para analisar o grau de desenvolvimento de um país, criaram-se indicadores compostos, como o IDH. Este combina informações económicas, sociais e culturais, utilizando indicadores como o RNB per capita, os anos de escola esperados e os observados e a esperança média de vida à nascença, sendo que o seu valor varia entre 0 e 1 (país com melhor nível de desenvolvimento humano).

Como podemos observar na tabela 3, o Egito apresenta um IDH de 0,731, o que, relativamente aos Estados Árabes, é um valor superior. Logo, apresenta um maior grau de desenvolvimento do que a média dos restantes países árabes. Já em relação ao Mundo, apresenta um valor quase idêntico.

No Egito, as pessoas vivem em média 70 anos, menos do que tanto os Estados Árabes, onde vivem 70,9 anos, como no Mundo, onde chega aos 71,4 anos.

Já em termos de escolaridade, o Egito apresenta o valor mais elevado, tanto nos anos previstos como nos efetuados, algo que não se reflete diretamente no valor do RNB per capita, uma vez que, na teoria, quanto maior é o grau de escolaridade de uma economia maior será o seu produto, dado que vivemos na era da economia do conhecimento onde o investimento na formação dos trabalhadores (capital humano) é cada vez mais importante.

Para além desta análise, sabemos que há países onde o IDH é muito elevado e, mesmo assim, apresentam situações que não dignificam o ser humano. Sendo assim, criaram-se novos indicadores para ultrapassar estes números que passam a ideia de um bem-estar ilusório. Um desses indicadores é o índice de desenvolvimento humano ajustado às desigualdades (IDHAD). Este indicador varia entre 0 e 1 e pretende retirar ao IDH as desigualdades resultantes de cada uma das suas dimensões. Isto pode originar tanto uma perda de valor como uma mudança na classificação. O seu valor é equivalente ao valor do IDH, se não existir qualquer tipo de desigualdade no país, e diminui à medida que as desigualdades crescem. Deste modo, vamos passar à análise deste indicador, com o objetivo de perceber se no Egito existem muitas desigualdades.

Após uma leitura dos dados da tabela, é possível dizer que o Egito foi a região que mais perdeu valor no IDHAD, significando que é onde se verificam mais situações de desigualdade, apresentando um coeficiente de desigualdade humana de 28, significativamente maior do que o do Mundo. De modo geral, em todos os indicadores o Egito apresenta maior desigualdade, excetuando na esperança média de vida, onde apresenta um valor de desigualdade mais baixo. Assim, apesar de o Egito mostrar melhores resultados no que toca ao IDH, após analisarmos o IDHAD chegamos à conclusão de que esses valores são ilusórios, dado que das regiões analisadas é o que apresenta mais desigualdade, descendo 21 posições no total dos países, como já pudemos confirmar ao verificar a concentração do rendimento no ponto percentual mais rico.

Através da análise dos indicadores de desenvolvimento supracitados, foi-nos possível responder à nossa hipótese inicial. Será o Egito um país de muitas desigualdades? Verificamos que, apesar de apresentar um nível de desenvolvimento humano relativamente bem posicionado em relação aos Estados Árabes (região em que se encontra) e ao Mundo, quando se observa o seu IDHAD, verificamos que o seu valor diminui significativamente, confirmando as nossas suspeitas das desigualdades existentes no Egito. Para além disso, como podemos confirmar através do seu índice de Gini, uma pequena parte da população detém uma grande parte do rendimento.

Concluindo, através da análise dos dados, chegamos à conclusão de que, apesar de o Egito apresentar um desenvolvimento humano elevado e de se encontrar bem posicionado dentro da sua região, ainda existem bastantes desigualdades que têm de ser colmatadas, para chegar ao nível dos países mais desenvolvidos. Para além disso, voltamos a confirmar as nossas suspeitas de que os trabalhadores das imagens 2 e 3 provavelmente não terão condições para morar dentro da nova cidade, limitando-se a viver em cidades como a cidade do Cairo, que é das cidades mais povoadas a nível mundial e com condições de vida que põem em causa os direitos humanos.

 

 

Bibliografia/webgrafia

 

      2023 Photo Contest, Africa, Stories; em linha:

https://www.worldpressphoto.org/collection/photo-contest/2023/Nick-Hannes/1; novembro 2024.

· Fernandes, Ana Patrícia carvalho; Novo Cairo: a nova capital do Egipto ou a capital da desigualdade?; Publico; em linha:   https://www.publico.pt/2022/02/05/p3/cronica/novo- cairo-nova-capital-egipto-capital-desigualdade-1994126; novembro 2023.

     Infopédia; Cairo; em linha: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$cairo; outubro 2023.      

     Pais, Maria João e outros; Economia C; Texto Editores, Lisboa; 2023.

     Pais, Maria João e outros; Economia A; Texto Editores, Lisboa; 2023.

     Redação Hypeness; O que se sabe até agora sobre a nova e futurista capital do Egito ainda sem nome; Hypeness; em linha:    https://www.hypeness.com.br/2021/09/o-que-se- sabe-ate-agora-sobre-a-nova-e-futurista-capital-do-egito-ainda-sem-nome/ Novembro 2023.

     Redação Pragmatismo; Construção da nova capital do Egito no meio do deserto é projeto caro e controverso; Pragmatismo político; em linha:

https://www.pragmatismopolitico.com.br/2018/06/construcao-nova-capital-do-egito-deserto.html; outubro 2023.

     Soares, Márcia e outros; Tudo é Economia; Porto Editora; 2023.

     United Nations Development Programme, Relatório de desenvolvimento Humano 2021/2022, novembro de 2023.

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